quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Guerra nas Estrelas em 3D - Episódio I

Desde os 12 anos de idade tenho Guerra nas Estrelas em alta conta. Numa segunda-feira à noite, 28 de dezembro de 1987, a TV Globo exibiu o filme que agora conhecemos como Star Wars: Episódio IV-Uma Nova Esperança. Aquilo marcou minha vida. Era como se todas as minhas brincadeiras de infância, baseadas em Buck Rogers e Battlestar Galactica, se concretizassem numa soberba aventura. Personagens marcantes como Luke Skywalker, Obi-Wan Kenobi, Princesa Leia, Han Solo, Darth Vader, lasers, naves espaciais em combates bem idealizados, inesquecível trilha sonora de John Williams, enfim, muitos horizontes culturais abertos.

Nos meses subseqüentes foram exibidos Episódio V-O Império Contra-Ataca (18 de janeiro de 1988, no Festival de Verão) e VI-O Retorno de Jedi, este na estréia de Tela Quente (na época realmente quente, só com grandes filmes), em 07 de março de 1988. Fiquei virtualmente mergulhado na saga que se passa em uma galáxia muito, muito distante.

Estes filmes, junto com Superman e Superman II, tornaram-se meus preferidos, pelo argumento interessante, de conotações mitológicas, efeitos especiais incríveis, tornando o impossível visível diante de nossos olhos, e as composições de John Williams despertaram em mim gosto pela música instrumental e sinfônica.

Muitos anos e reprises depois, o desejo de retornar àquele universo cresceu ao limite do suportável,  para mim e muitos outros, com boatos sempre crescentes de que a série seria retomada tão logo os custos e a tecnologia necessária se tornassem acessíveis.

Em 1997 a trilogia foi relançada nos cinemas com algumas cenas refeitas e outras acrescentadas usando os últimos avanços em animação digital. Isso foi o aperitivo para o lançamento do Episódio I, que traria o passado de Ben Kenobi e a queda de seu discípulo Anakin Skywalker para o lado sombrio da Força, tornando-se o temível Darth Vader, bem como o extermínio dos cavaleiros Jedi.

De certa forma, todos nós já sabíamos o conteúdo da narrativa. Ao final da história, teríamos drama, tragédia e o triunfo do Mal, incorporado nos Sith e no surgimento do Império Galáctico, pondo fim à democracia da República Galáctica.

Diante de tanta expectativa por parte dos fãs e do público em geral Star Wars (agora com o título em inglês mesmo, para universalizar a marca) Episódio I - A Ameaça Fantasma chegou aos cinemas em 1999 (24 de junho no Brasil). E o entusiasmo começou a dar lugar a críticas e uma grande dose de decepção. É certo que seria impossível tamanha antecipação ser compensada pelo filme em si mesmo, mas o que vimos é que o frescor, a magia e aventura, bem como sua mitologia foram esvaziados.

A história começa com um bloqueio comercial contra o planeta Naboo, supostamente em protesto contra a cobrança de impostos sobre as rotas mercantes mais longíquas da galáxia. Neste planeta governa a rainha Amidala (este é um dos muitos nomes mal escolhidos por George Lucas, criador da saga, diretor e único roteirista, e que soam ridículos em português, assim como o chefe da segurança, capitão Panaka), que pede auxílio ao Congresso Galáctico para por fim ao bloqueio. Dois jedi são enviados como embaixadores para resolver a questão. No desenrolar da história fica claro um plano para assassinar a rainha e forçar a eleição do Senador Palpatine para o cargo de Supremo Chanceler. O título A Ameaça Fantasma trata da influência de um lorde sith, chamado Darth Sidious, que manobra nos bastidores para desestabilizar a república. Dentro deste contexto os personagens são levados ao planteta Tatooine, onde encontram um menino de nome Anakin Skywalker, extremamente habilidoso e bom piloto, que chama a atenção do mestre jedi Qui-Gon Jin, que o leva ao conselho jedi a fim de que receba treinamento adequado. Enquanto isso, os personagens principais voltam para Naboo, onde travarão uma batalha decisiva contra a naves e droids da Federação de Comércio.

Lucas exagerou na tentativa de infantilizar a história (como em O Retorno de Jedi). A presença de um Anakin ainda criança era desnecessária, haja visto tantos detalhes já revelados nos Episódios IV, V e VI. A performance de Jake Lloyd foi muito criticada, mas a responsabilidade maior cai sobre o diretor, que não é especialmente talentoso para extrair grandes interpretações de seus atores e, ainda por cima, o roteiro é cheio de diálogos tolos e incompreensíveis. A seqüência de corrida no deserto de Tatooine é um primor de concepção e realização, mas não acrescenta nada à história. A explicação para o fenômeno da Força é ridículo bem como alguns personagens mal-criados e mal usados, como Jar Jar Binks, artificialmente cômico e progressivamente abandonado nos filmes seguintes, o mestre jedi Qui Gon Jin, que não é mencionado nos filmes originais, num desperdício do talento do grande ator Liam Neeson, e o vilão Darth Maul, discípulo de Darth Sidious, que mal fala e é logo eliminado.

Mencionamos o personagem Anakin Skywalker. Se Hayden Christensen (Anakin nos episódios seguintes) tivesse assumido o papel, já pós-adolescente e a história adiantasse mais o que acontece, por exemplo, no Episódio II, o impacto teria sido bem maior.

Tudo isso não impediu o grande sucesso de público que o filme alcançou, faturando mais de 920 milhões de dólares nas bilheterias mundiais, tornando-se, na época, a segunda maior bilheteria da história, atrás apenas de Titanic.

Tecnicamente, o filme deu grandes saltos, no espetacular uso dos efeitos especiais, combinando todas as técnicas existentes, enriquecendo a ambientação espacial e libertando a história de quaisquer limitações narrativas. Nada menos que três equipes de efeitos visuais, miniaturas e animação da Industrial Light and Magic foram utilizadas. A trilha sonora de John Williams é épica, com pleno uso da Orquestra Sinfônica de Londres, combinando perfeitamente com a espetacular meia hora final, onde o filme realmente faz lembrar os melhores momentos da trilogia original, especialmente no duelo de sabres-de-luz, impecavelmente coreografado.

Mas o sabor geral é de um certo desapontamento. A arrogância de George Lucas, sem dirigir um filme desde que fez o Episódio IV, que em nenhum momento se esforça realmente em atender a expectativa por ele próprio criada, tornou-se o principal defeito do mesmo.

No ano seguinte, na cerimônia do Oscar, tudo isso trabalhou contra a premiação do filme nas categorias em que de fato merecia: efeitos visuais, mixagem de som e edição de efeitos sonoros. Perdeu nestas três categorias para Matrix, que com muito menos recursos, esbanjou criatividade para criar cenas realmente impressionantes e vibrantes.

Agora, seguindo a prática de Lucas, os filmes serão relançados com tecnologia 3D. Será uma boa oportunidade para serem reavaliados.

No quesito efeitos visuais, vale um adendo: entre 1977 e 1994, a empresa de George Lucas, Industrial Light and Magic, dominou a produção e o avanço tecnológico na área (status que, de certa forma, ainda mantém até hoje), recebendo o Oscar da categoria em 1977(Guerra nas Estrelas), 1980 (O Império Contra-Ataca), 1981 (Os Caçadores da Arca Perdida), 1982 (E.T. O extraterrestre), 1983 (O Retorno de Jedi), 1984 (Indiana Jones e o Templo da Perdição), 1985 (Cocoon), 1987 (Viagem Insólita), 1988(Uma Cilada para Roger Rabbit), 1989 (O Segredo do Abismo), 1991 (Exterminador do Futuro 2), 1992 (A Morte Lhe Cai Bem), 1993 (Jurassic Park) e 1994 (Forrest Gump).

A partir de 1995 a Academia de Hollywood mudou os critérios e a predominância da ILM extinguiu-se, apesar de, na maioria dos anos, ao menos uma produção de lá ser indicada. Eu entendo isso como um boicote sistemático pois nada justifica que filmes como Twister, Star Wars Episódio I (apesar dos méritos da equipe de Matrix), Mar em Fúria, Star Wars Episódio II, Star Wars Episódio III (nem ao menos indicado), Transformers não tenham sido agraciados com o Oscar de Efeitos Visuais. Piratas do Caribe: O Baú da Morte é o único título com efeitos visuais da ILM pós-Forrest Gump a ser premiado com o Oscar da Academia. 

Muito se fala da Weta Digital, sediada na Nova Zelândia, como a líder nos dias atuais, mas isso se deve principalmente aos orçamentos exorbitantes das produções em que participa: 500 milhões de dólares ou mais na série O Senhor dos Anéis, 250 milhões em King Kong, 400 milhões para Avatar. Em muitos casos outras companhias são chamadas para cooperar para que os prazos sejam cumpridos. 

Enquanto isso os episódios I, II e III de Star Wars tiveram seus efeitos visuais e animações feitas em um único estúdio, limitado pelo orçamento relativamente baixo de cada um dos filmes, em torno de 110 milhões de dólares, o que mostra a versatilidade das equipes de técnicos da ILM.

Que venham os outros filmes em 3D.

Ficha técnica:
STAR WARS: EPISODE I - THE PHANTOM MENACE, EUA, 1999.
Direção: George Lucas
Roteiro e produção executiva: George Lucas
Produção: Rick McCallum
Elenco: Liam Neeson, Ewan McGregor, Natalie Portman, Jake Lloyd, Pernilla August, Frank Oz, Ian McDiamird, Terence Stamp, Anthony Daniels, Kenny Baker, Ahmed Best, Samuel L. Jackson.
Música: John Williams - Fotografia: David Tattersall - Edição: Paul Martin Smith, Ben Burtt - Desenho de produção: Gavin Bocquet - Figurinos: Trisha Biggar - Diretor de animação: Rob Coleman - Supervisão de Efeitos Visuais: John Knoll, Dennis Muren, Scott Squires.

JHC

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