sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

GUSTAV MAHLER (1860-1911) - Parte VI

Depois das bem-sucedidas Quinta e Sexta Sinfonias, Gustav Mahler empreendeu uma nova sinfonia, a Sétima. O esquema estrutural é semelhante ao da Quinta: cinco movimentos, com um scherzo sombrio ao centro, circundado por dois movimentos lentos, intitulados Nachtmusik, ou seja, serenata em alemão, de grande delicadeza temática e instrumental, usando até mesmo piano e bandolins.

Esta obra é uma das mais complexas quanto à abordagem ideal. Aqui, são exigidas ao máximo as virtudes dos regentes e suas orquestras. O músicos devem saber ouvir uns aos outros e o maestro tem de exibir uma extraordinária imaginação musical, devido aos amplos movimentos e os muitos contrastes dentro de cada um deles, que tendem a tornar-se enfadonhos se não forem bem trabalhados.

É a menos executada e gravada das sinfonias de Mahler. Muitos dos primeiros defensores do opus mahleriano negligenciaram esta sinfonia, como Bruno Walter e Otto Klemperer. Klemperer demonstrava uma certa frustração pelo tom apoteótico do finale e do clima forçosamente otimista do primeiro movimento. Theodor Adorno, filósofo especializado em Mahler, chegou a dizer que a Sétima era a negação de tudo o compositor expressara em suas sinfonias precedentes.

Mas, com mente e coração abertos, uma boa gravação nos conquista para este universo sonoro que Mahler propôs. De certo, há um tanto de artificialismo nos temas otimistas e extrovertidos, mas que não atrapalha uma apreciação honesta da sinfonia, que nos traz um dos melhores trabalhos de orquestração de toda a literatura musical, mostrando a sensibilidade do compositor ao tratar seus temas e ao elaborar a instrumentação. Muitos trechos chegam a ser etéreos, poéticos mesmo.

Como destacado, é importante a interação entre maestro e orquestra. Alguns registros fonográficos cumprem seus objetivos com louvor, embora nossa seleção aqui não seja tão ampla quanto às anteriores.
Primeiramente, e acima de todos, Leonard Bernstein e a Filarmônica de Nova York, que legaram duas gravações (Sony e Deutsche Grammophon), que tem abordagens similares: grande intensidade e concentração, nos convencendo do grande valor que esta obra possui. A primeira está disponível em apenas um CD, enquanto o segundo álbum cobre dois discos e é  um tanto caro, por sinal, mas compensa. As outras gravações são medidas por estas duas.

Claudio Abbado, regendo a Sinfônica de Chicago (DG), tem brilho e virtuosismo, sem perder de vista o drama interno da sinfonia. Grande gravação.

Michael Tilson-Thomas, discípulo de Bernstein, atinge os mais altos níveis juntamente com a Sinfônica de Londres, pela BMG. Sua versão se aproxima daquela de Bernstein e é altamente recomendada. De fato, minha versão preferida, pelos grandes contrastes e pela performance da orquestra, explêndida. É um álbum duplo, mas a preço de um CD, tornando-o bastante acessível, em termos financeiros.

Outras gravações de destaque e dignas de respeitos são as de Giuseppe Sinopoli, com a Philharmonia Orchestra, e Pierre Boulez, com a Orquestra de Cleveland, ambas gravações pela DG. Têm grandes momentos de verdadeira inspiração, como os compassos iniciais regidos por Sinopoli, ou o Finale, na versão de Boulez.

Pessoalmente, meu primeiro contato foi com a versão de Abbado. Não sentia muito entusiasmo, achando que a música realmente era a mais fraca das que Mahler compôs. Quando ouvi a versão de Tilson-Thomas despertei para esta sinfonia e, hoje, ela é uma de minhas favoritas dentre as sinfonias de Mahler. Ele me convenceu de que se trata de uma das maiores sinfonias já escritas. Depois pude reavaliar o disco de Claudio Abbado e hoje, também sinto um grande prazer ao ouvi-lo e tenho um grande respeito pelo trabalho do regente.

Como citado em post anterior, a audição freqüente e repetida que o CD proporciona beneficia bastante a obra, permitindo a descoberta de novos e fascinantes detalhes cada vez que a ouvimos, tornando o nosso julgamento sobre a Sétima Sinfonia cada vez mais favorável à mesma. Uma grande obra-prima.

continua...

JHC

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