quarta-feira, 15 de junho de 2011

GUSTAV MAHLER (1860-1911) - Parte V

Depois de compor sua Quinta Sinfonia, Mahler entrou no período que é identificado como Rückert, no qual compôs um ciclo de lieder assim chamado, de tons pessimistas, fúnebres, ainda que belíssimos.
Sua Sexta Sinfonia, chamada “Trágica”, é densa, classicamente estruturada em quatro movimentos, de temperamento similar aos Rückert Lieder.
O primeiro movimento contrasta uma marcha implacável com um tema terno, que Mahler identificava como o “tema de Alma”, em referência à sua esposa.
Tradicionalmente o segundo movimento traz um scherzo, lúgubre, que amplia a sensação de catástrofe iminente.
O terceiro é um andante, de grande beleza, que faz um grande contraponto ao imenso finale, que originalmente trazia em sua coda três batidas de tímpanos, interpretadas como golpes do destino. Curiosamente, logo depois da estréia, o compositor foi atingido por tragédias pessoais: a morte da filha mais velha, a demissão da Ópera Imperial e o diagnóstico de sua grave doença cardíaca.
Considera-se a Sexta como a principal composição de Mahler, sua sinfonia mais bem acabada e intelectualmente desafiadora, clássica quanto à forma, profética quanto ao conteúdo. Para o compositor austríaco e discípulo de Mahler, Alban Berg, era a única Sexta, apesar da Pastoral, de Beethoven. Não muitos anos depois a Europa seria devastada pela 1ª Guerra Mundial e o Império Austro-Húngaro extinto.
John Barbirolli fez um registro que é tido como clássico, à frente da Orquestra Filarmônica de Londres(EMI). O maestro adota tempos em geral amplos, alcançando dimensões não somente trágicas, mas devastadoramente catastróficas. Diferente do usual, o Andante vem em segundo lugar, colocando o scherzo em terceiro, prática que alguns, como Abbado, vêm difundindo recentemente, segundo se acredita ser a intenção original do compositor.
Leonard Bernstein deixou registros expressivos, com a Filarmônica de Nova York (Sony) e Filarmônica de Viena (DG), assim como Kubelik, Abbado, Mariss Jansons, dentre outros.
Tecnicamente a versão de Karajan (DG) é insuperável, equilibrando excelência sonora com uma concepção estrutural memorável, talvez o melhor registro existente, especialmente no Andante, onde o regente evita o melodrama sem prejuízo do lirismo e da sutileza instrumental.
Não há espaço aqui para a esperança ou alegria de viver que se fazem presentes em muitos trechos das sinfonias anteriores. Nenhum outro compositor pós-Mahler conseguiu expor de maneira tão contundente as ambigüidades do homem moderno, cujo distanciamento de Deus e suas tendências materialistas levou a tragédias tão gritantes como as duas guerras mundiais e vários outros conflitos mortais em várias partes do mundo.
Diz Michael Kennedy em sua biografia de Mahler que Bruckner chegava até Deus com facilidade, Richard Strauss nunca se preocupou em buscá-lo e Mahler prosseguiu buscando-o até o último momento de sua vida.
Essa busca terá reflexos nas obras seguintes, especialmente na Oitava Sinfonia, que, em tempo oportuno, abordaremos aqui.
JHC
continua...

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