terça-feira, 13 de novembro de 2012

Gustav Mahler (1860-1911) Parte IX

Já mencionamos a estreia da Oitava Sinfonia, apelidada contra a vontade do compositor de "Sinfonia dos Mil", como o maior sucesso da vida de Mahler, que então recebia o merecido reconhecimento por sua obra, tanto pelo público como pela crítica.

Para o projeto sinfônico seguinte, Mahler tentou "ludibriar o destino", o qual, segundo a superstição romântica, impusera o número 9 como limite na vida de um compositor, visto que mestres tais como Beethoven, Schubert e Bruckner terminaram suas obras sinfônicas após as respectivas Nonas Sinfonias (no caso de Bruckner, deixada incompleta).

Em vez de uma sinfonia numerada, foi composta uma sinfonia com canto, em seis movimentos, com letras adaptadas da tradução em alemão da coletânea de poesia chinesa "A Flauta Chinesa" por Hans Bethge. O título dado foi "A Canção da Terra" (Das Lied von der Erde), para mezzo-soprano (ou baixo) e tenor. Nunca Mahler foi tão sutil ao instrumentar uma composição e tão imaginativo na elaboração dos temas. O tom geral é pessimista, algo resignado, e trata da juventude, da tristeza, da embriaguez e despedida da vida.

Segundo consenso geral, é a maior de todas as obras-primas mahlerianas, extraordinariamente bela e emocionalmente profunda, com a última parte, "A Despedida", ocupando praticamente metade da duração da obra. É uma verdadeira sinfonia, com seus temas soberanamente desenvolvidos e inter-relacionados  com as vozes soberbamente integradas ao tecido instrumental. Poderíamos discorrer fartamente sobre as inúmeras virtudes aqui presentes, mas, ainda assim, não faria justiça ao conteúdo que se tenta descrever.

Foi concluída no início de 1911, pouco antes da morte do compositor. Bruno Walter regeu a primeira apresentação, ocorrida em Munique, Alemanha, em novembro de 1912.

Das numerosas gravações disponíveis citaremos algumas, que apreciamos muito. Primeiramente, e, segundo os críticos, acima das demais, a de Otto Klemperer (EMI), com Christa Ludwig e Fritz Wunderlich e a Philharmonia Orchestra, de Londres. O canto é insuperável e o regente atento às nuanças do idioma mahleriano.

Bernard Haitink (Philips/Universal) tem como solistas Janet Baker e James King, com a Concertgebouw Orchestra em seu habitual virtuosismo a serviço da concepção equilibrada do regente.

Karajan, Bernstein e Walter têm abundantes virtudes e valem a pena.

Com esta obra, Mahler apresenta uma das primeiras obras-primas da música moderna, ultrapassando as fronteiras do romantismo e vislumbra o século XX. Suas técnicas e ideais formais influenciarão toda uma geração de compositores, como Schoenberg, Webern e Berg.

continua...

JHC


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